Sou uma fã número 1 de bicicleta como meio de transporte. É ou não é um negócio formidável você chegar em lugares distantes de graça, sem poluir e ainda se exercitar? Você economiza várias vezes: no transporte, no combustível, no ginásio* e no tempo.  Qual não foi minha felicidade quando soube que Lisboa estava repleta de ciclovias novinhas!
Também sempre fui igualmente fã de metro*. Você anda dois quarteirões, pisca e chegou do outro lado da cidade. Melhor. Você sabe em quanto tempo estará do outro lado da cidade, pois não há trânsito ou imprevistos. E não tem que se preocupar em estacionar o carro, outro problema das cidades hoje em dia. 
Para mim, quaisquer destas opções são mais divertidas que andar de carro. Você se movimenta, vai vendo o movimento na rua, as pessoas, escuta as conversas, vê a paisagem, encontra um conhecido, fala com um desconhecido, faz um amigo.
Então, ao me mudar para Lisboa, me via andando de metro como em Nova Iorque e de bicicleta como em Amsterdã.
Quando escolhemos onde morar em Lisboa, o mais fundamental para a gente era o acesso a transportes públicos. Um dos grandes benefícios das metrópoles européias é justamente não depender de carro. Poder viver de forma mais simples inclui dispensar o carro e essa era nossa proposta de vida aqui. Viver de forma prosaica, mas feliz.
Acabamos escolhendo um apartamento numa zona central em Lisboa, que é Telheiras (isso na época em que a gente escolhia o imóvel e não o imóvel escolhia a gente).
E logo descobrimos o quão Telheiras é central e farta de linhas de metro, autocarros*, próximo à estações de comboio*, com ciclovias e bikes compartilhadas - a Gira. Além de ser uma zona agradabilíssima para se andar à pé, com muitos jardins e relvados*. Zara, minha schnauzer, agradece!
Pois bem, não nos parecia razoável comprar um carro. Afinal, com tantos transportes, para que carro? Seria totalmente dispensável, não?
Não, não e não. 
Logo percebemos que praticamente TODA A GENTE aqui tem carro. Mesmo quem mora ao pé do metro.  
Achamos aquilo estranho. Pra que carro, malta*? Tem metro!
Aos poucos fomos descobrindo. Há vários "pontos cegos” no metro em Lisboa. A cidade não tem uma grande malha como Paris, Nova York, Londres. Sempre há transportes públicos, mas nem sempre são rápidos como o metro. Para ir a muitos lugares é necessário conjugar o metro com outro meio, como autocarro, elétrico, transporte fluvial ou comboio e isso pode triplicar, quadruplicar o tempo de deslocamento. 
Estava explicado o porquê de tanta gente ter carro. A questão principal é o tempo, não só o conforto. 
Domingo passado fui à praia de Santo Amaro, em Oeiras, e para fugir da falta crônica de vagas nas margens das praias da linha de Cascais, resolvi me aventurar no combo metro + comboio. Levei uma hora e quinze, quando de carro se gasta 20 minutos.
1 x 0 para o carro.
E é mesmo verdade que alguns locais em Lisboa são mesmo proibitivos para estacionar. Não tem vaga. Nem na calçada. E para estes locais, aqui em casa, usamos sempre o transporte público.
Um destes locais é a zona histórica. É muito mais rápido e prático ir de metro - 20 minutinhos daqui de Telheiras. Você se perde nas ruelas do Bairro Alto e do Chiado e não precisa voltar pelo mesmo local por onde chegou. O carro aqui, só atrapalha.
1 x 0 para o metro.
Então, a diferença aqui em relação ao Brasil é que usamos todos os meios de transporte. Carro, autocarro, metro, comboio, transporte fluvial, bicicleta própria (quando o tempo ajuda), compartilhada, carro e moto compartilhados, os próprios pés…Aqui usamos o meio de transporte de acordo com o local aonde vamos.
Você resolve conhecer a praia que já ganhou o prêmio da mais bela da Europa - a praia de "Galapinhos", que fica a 40 km de Lisboa. Você vai de carro.
Seu filho vai para a escola perto de casa? Pode ir à pé ou de bicicleta na ciclovia (de biclas, como se diz por aqui).
Vai para Sintra. Melhor ir de comboio. Não demora tão mais que ir de carro, se você morar próximo à estação Entre Rios. E Sintra é impossível de estacionar e andar de carro lá dentro é uma tortura.
E assim vamos. Cidades pequenas, de carro. Zona histórica, metro. Curso de inglês no bairro, autocarro ou bicicleta. Shopping, carro ou bicicleta (de novo, quando o tempo ajuda). Supermercado, carro.
Usamos bicicleta para ir ao ginásio, ao shopping e a locais num raio de até 6 km de casa.
Se você não quer ou não pode gastar na compra de um carro agora, pode alugar. Há plataformas de aluguel de carros onde você escolhe o melhor preço dentre várias locadoras. O ideal é que se faça este aluguel com muita antecedência. O preço oscila como em outros serviços turísticos como hospedagem e passagens aéreas - de acordo com o mês de maior ou menor demanda, o preço despenca ou sobe para além da estratosfera. No inverno pode se pagar 50€ por mês,  mas no auge do verão - agosto - o valor pode passar de longe os mil euros mensais.
A vantagem do aluguel é que você se livra dos custos de manutenção e vistoria, que aqui é anual. 
Quanto ao metro, só Lisboa e Porto oferecem este meio, mas as demais cidades contam com autocarros e muitas com comboio (mas não são todas).
Quanto ao metro, só Lisboa e Porto oferecem este meio, mas as demais cidades contam com autocarros e muitas com comboio (mas não são todas).
Então se você quer saber se continuará dependendo de carro para viver em Portugal, digo que provavelmente sim. É difícil escapar (mas não impossível). Não dá para pagar Uber e Taxi tantas distâncias longas a longo prazo. Você não vem para cá de férias, mas sim para morar. 
Mas aqui você faz escolhas e o carro não é a sua única opção.
Lisboa não é o Brasil, mas também não é a Holanda. Aqui você não será escravo do carro. Usará de vez em quando. Mas quando precisar, ele estará lá. Provavelmente perdido, porque você não vai nem se lembrar onde o estacionou na semana passada. 
GLOSSÁRIO TUGA
Ginásio: academia
Metro: aqui se diz “métro”, porque vem de “Metropolitano”, que é o nome da empresa de metrô e ônibus daqui.
Autocarro: ônibus
Comboio: trem
Relvado: gramado
Malta: pessoal, galera.
Já vi que vou mesmo comprar um carro! Moro em Braga e os autocarros encerram o serviço antes das 22h00! Ou seja, nada de noitada se não tiver carro!
ReplyDeleteJura?? Vou me mudar para lá em 2019. Céus. Mas lá metade do ano faz tempo bom e você pode andar de bicla!! :) Mas no inverno chove muito, daí complica... :\
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