Portuganders

Sou uma fã número 1 de bicicleta como meio de transporte. É ou não é um negócio formidável você chegar em lugares distantes de graça, sem poluir e ainda se exercitar? Você economiza várias vezes: no transporte, no combustível, no ginásio* e no tempo.  Qual não foi minha felicidade quando soube que Lisboa estava repleta de ciclovias novinhas! Também sempre fui igualmente fã de metro*. Você anda dois quarteirões, pisca e chegou do outro lado da cidade. Melhor. Você sabe em quanto tempo estará do outro lado da cidade, pois não há trânsito ou imprevistos. E não tem que se preocupar em estacionar o carro, outro problema das cidades hoje em dia.  Para mim, quaisquer destas opções são mais divertidas que andar de carro. Você se movimenta, vai vendo o movimento na rua, as pessoas, escuta as conversas, vê a paisagem, encontra um conhecido, fala com um desconhecido, faz um amigo. Então, ao me mudar para Lisboa, me via andando de metro como em Nova Iorque e de bicicleta como...

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Maio de 2017. Último dia de aula na escola da minha filha. Despedidas pra cá, chororô para lá, muitos bilhetinhos e juras das amigas queridas de anos. Não é fácil dar tchau para sempre. Para trás ficou aquela escola enorme em dimensões e em memórias do passado. Na nossa cabeça martelavam mil dúvidas quanto ao futuro da nossa filha em Portugal. Será que na nova escola ela seria tão feliz como naquela onde viveu alguns anos marcantes de sua infância? Quando escolhemos aquele colégio, muitos anos antes de cogitarmos morar em outro continente, o que nos motivava era o fato de ser um dos primeiros no ranking de aprovação no ENEM, o exame nacional que possibilita o ingresso do jovem na universidade. Era uma escola forte, conteudista, que ensinava à criança uma rotina rígida de estudos, caligrafia, ortografia e redação. Uma escola com ótimos professores e avaliações surpresa que obrigariam a criança a ter o conteúdo sempre na ponta da língua.  Logo no primeiro ano de...

Estamos a poucos dias do verão, e com o início das matrículas escolares em Portugal uma horda de brasileiros chega de mala e cuia, com seus filhos, cães, malas infinitas, lágrimas enxutas e uma expectativa que não cabe no peito.  Emoções afora, uma providência imediata e cada vez mais desafiadora é a de encontrar uma casa para arrendamento.  Uma questão que para minha família se tornou decisiva para escolhermos nosso canto definitivo em Portugal é o conforto térmico.  Moramos de arrendamento em Lisboa, uma cidade mais quente, pois é localizada ao sul do país, ao contrário do Norte, que é mais frio. Entretanto, moramos em um apartamento muito frio e isto nos causou não somente muito incômodo - usar casacos pesados dentro de casa é algo cansativo e irritante,  tomar banho no inverno uma tortura... etc etc etc... ficaria horas aqui destilando meu mal humor invernal - , mas principalmente um rombo na nossa conta bancária por causa da tarifa de energia elét...

Uma questão que observo morando fora do Brasil já há quase um ano é a diferença da maneira como o brasileiro e o português gastam seu dinheiro.  Claro que cada um faz o que quer de sua renda e não é minha intenção fazer ninguém se sentir culpado ou ficar aqui ditando regras.  Mas gostaria sim que as pessoas no Brasil tivessem a oportunidade de ter um outro olhar para a forma como gastam o que ga nham com tanta dificuldade. Eu tive essa mudança de olhar e me impressionei como a nossa cultura brasileira de classe média / média alta está entranhada com hábitos que consomem nosso orçamento doméstico. São comportamentos tipicamente brasileiros, que não vi semelhança nos EUA ou aqui na Europa. Assim como a jabuticaba, que diz a lenda que só encontramos no Brasil, temos também algumas exclusividades que acho que contam um pouquinho do que somos nós como povo. Acredite, hoje percebo que muitos hábitos corriqueiros no Brasil, aqui na Europa seriam realidade apenas para pessoas r...

Sigo muitos grupos de Facebook na terrinha. Gosto porque entendo os tempos e movimentos desta nova vaga migratória avassaladora da qual faço parte (leia-se, brasileiros desesperados fugindo do caos brasileiro) e porque gosto de contribuir com o que aprendi aqui. Quebrei a cara uma dezena de vezes, pelo menos, e gosto de pensar que, com minha contribuição, menos gente quebrará a cara como eu. Um tema em especial pula na minha timeline diversas vezes por dia. Se os candidatos a imigrantes o pesquisassem na lupa de seus grupos prediletos, garanto: planejariam melhor sua mudança para Portugal em dois palitinhos. Ou em dois cliques. Esse tema é emprego. "Tem emprego em Portugal?" "Tem emprego em Braga?" (agora todos resolveram se mudar para Braga). "É fácil arrumar emprego aí?"" Consigo sustentar uma família de x pessoas trabalhando em Portugal?” “Consigo trabalho na minha área?" Quando o governo português foi à imprensa divulgando p...

Não posso afirmar se é por conta do fim tardio da escravidão, ou se pela discrepância social que cria na sociedade brasileira uma divisão em castas, o fato é que o Brasil tem o título nada honroso de ser o país que mais tem empregadas domésticas no mundo, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho).  A questão é que ter empregadas em casa não nos deixa apenas mal acostumados e mimados 😬, mas também muda a forma como a sociedade se organiza. Moldando todo seu comportamento.  Você deve estar pensando que é um exagero da minha parte, eu sei. Mas não é não, malta. É assombroso mesmo. Pois.  Vamos à mais uma lista das jabuticabas 🙃.  O Brasil é um dos poucos países do mundo onde executivos saem do trabalho às 9, 10, 11 horas da noite (se for publicitário, então, não volta sequer no mesmo dia).  Mas como trabalhar 14 horas por dia se não há quem cuide das crianças?  Em diversos outros países o horário do término do trabalho coi...